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sábado, 21 de julho de 2012

Aprender por mágica

O conflito de visões se acentuou com a disseminação das orientações construtivistas nas escolas. O construtivismo não é um método de ensino, mas uma concepção teórica que trouxe, entre outras proposições, a noção de que o conhecimento é construído pelos alunos com base no confronto entre o próprio repertório de ideias e experiências e o ambiente. Na alfabetização, isso implica reconhecer que desde cedo as crianças têm contato com as palavras e imaginam como se formam.

Há uma sequência comum a todos, como explica a pesquisadora Andréa Luize, do Núcleo de Práticas de Linguagem da Escola da Vila, em São Paulo: primeiro, a criança descobre que palavras e desenhos são diferentes; depois, que as palavras são feitas de símbolos, que precisam existir em variedade e quantidade; mais à frente, que há correspondência entre sons e símbolos; e assim por diante. O professor atua como facilitador, provocando o aluno a formular hipóteses e avançar.

A introdução de uma visão para a qual muitas escolas e professores não estavam preparados gerou muita confusão, especialmente pela falsa ideia de que o professor nunca deveria intervir. "Resultou disso que as crianças acabavam não tendo nenhum contato com regras até uma idade avançada", diz a educadora Claudia Tricate, da Escola Mágico de Oz, em São Paulo. "Parecia que tudo iria se reorganizar magicamente, sem a intervenção de um interlocutor competente, ou seja, o professor",acrescenta Claudia Siqueira, diretora do Colégio Sidarta, em São Paulo.

Não foi bem o que se viu. Então, deve-se ou não corrigir os erros das crianças na fase de alfabetização? De forma geral, a resposta é sim, desde que sejam respeitados critérios, entre eles o de que as normas cobradas tenham sido ensinadas anteriormente. De nada adianta lascar a caneta vermelha para corrigir "caza"se as crianças ainda estão aprendendo sobre os sons idênticos de algumas letras. "Não se trata de relevar ou não a escrita correta, mas de permitir que as crianças façam determinadas aprendizagens que são, de fato, hierarquicamente prévias", explica Andréa Luize.

Outra questão é como será a intervenção do professor para corrigir o erro. Nas visões mais contemporâneas da educação, em que se busca um ensino que faça sentido para a vida do aluno, é importante que o aprendizado do idioma partilhe dessa filosofia. O aluno deve ter a oportunidade de se autocorrigir, compreendendo as características do texto que produz e a necessidade de se adequar a diferentes normas. "Exercitar tempos verbais em listas de frases ou em conjugações isoladas, como ‘eu canto, tu cantas’, não faz com que as crianças aprendam sobre a função dos verbos e o uso que podem fazer deles para escrever melhor",diz a pesquisadora Andréa Luize.

A família pode ajudar? Sempre. Mas é preciso conter a ansiedade comum dos adultos de passar a borracha em tudo, o que a educadora Mônica Padroni, da Escola Projeto Vida, em São Paulo, chama de visão higienista do texto - e que pode afetar até a autoestima de uma criança em processo de alfabetização.
                                                                                                                    Fonte:Educar para Crescer

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